quinta-feira, 29 de julho de 2010

O Corsa - Parte 10

Depois da série de sustos e prejuízos sem tamanho, o Corsa e eu chegamos ao fim, assim como também chegou ao fim meu casamento. Dois anos e meio de sufoco, tanto na vida quanto nas relações pessoais. Como nada é para sempre, a vida segue.

Rompido o casamento, o carro ficou quinze dias na posse de minha ex-mulher, em Volta Redonda, aumentando o meu estresse. Assim que ela voltou para Angra dos Reis, não tive dúvidas. Era hora de vender o carro e repassar a parte que lhe cabia no bem. Maldito casamento com divisão de bens!

Chamei o meu irmão, Wagner Lannes, para me acompanhar à agência e vender imediatamente o Corsa, antes que o carro me fosse levado novamente. Não sei se foi a maior tolice que eu fiz, mas o arrependimento hoje é grande, ainda mais depois de ver o lindo corsinha desfilando pela rua, enquanto eu vivo metido em oficinas. Que destino! Por mais surrado que tenha sido, o Corsa nunca negou fogo e sempre esteve pronto para aguentar mais maus tratos por parte de imprudentes motoristas. Dele, a lembrança, fora os fatos até aqui mencionados, é boa. Histórias inesquecíveis me ocorreram naquele pequeno carro branco, notas impublicáveis, que não há como esquecer.

Toda despedida é triste. Todo fim deixa uma certa mágoa e o desejo de que poderia durar mais um pouco. Mas para nós, homem e carro, não havia mais meios de continuarmos. Era chegada a hora da mudança, hora de elevar a minha moral, que estava muito por baixo por conta dos últimos acontecimentos da minha vida pessoal despedaçada. E já que eu começaria a vida do zero de novo, nada melhor do que ter um carro novo para me guiar no novo caminho.

Encontramos no pátio da agência um antigo sonho de consumo: um Honda Civic 3D Si preto com pigmentos de alumínio. O carro era fabuloso. Lindo como nos meus delírios juvenis. Não houve quem me tirasse da ideia trocar o corsinha pelo Marmita, principalmente depois de uma volta com o carro. Tudo era perfeito: a dirigibilidade, o conforto, a estabilidade, o ronco forte do motor, o estilo esportivo, a aparência incomum. Eu, levado pela empolgação, não me importei com a idade do Honda, não liguei para o fato de ser importado, não pensei no alto custo da manutenção, eu queria aquele carro.


Despedi-me do Corsa com um aperto no peito. Sentimentalidades bobas, mas era o primeiro carro, comprado com o esforço do meu trabalho e que me atendeu perfeitamente quando pôde. Era difícil, mas o substituto preencheu o seu lugar.

Sai da agência fazendo o motor do Honda roncar alto. Com um sorriso imenso de satisfação estampado no rosto.

O telefone tocou. Era minha ex-mulher me comunicando que queria o carro para ir a uma festa em Paraty. Eu dei uma gargalhada cínica antes de avisar que o dinheiro que lhe cabia do carro seria depositado na segunda-feira.

3 comentários:

  1. Eis que surge o jovem japonês! Me recordo perfeitamente desse dia. Da loja com o pátio lotado de nacionais em ótimas condições meu querido irmão só teve olhos pra esse "pretinho que brilha no escuro". Mais uma das muitas loucuras que já participei com você! Mas ainda assim, foi muito bom enquanto durou né... ao menos não se pode reclamar de falta de garotas depois dele.

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  2. Não vai voltar a escrever aqui meu filho? Tá parecendo eu! Mas eu tenho desculpa, as eleições tomaram quase todo o meu tempo, o que restou o 8º período levou!

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  3. Já passou da hora de postar mais desventuras automobilísticas. Depois de tudo que li fiquei com peninha do Malá. Vou curdar melhor dele novamente. Sei como é triste gastar, gastar e gastar sem ter sido o responsável por tantas destruições.

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