quinta-feira, 22 de julho de 2010

O Corsa – parte 5

Eu realmente era feliz com o corsinha branco. Fora os problemas citados anteriormente, o carrinho nunca me deixou na mão. Sofreu muito, é verdade, nas mãos da minha ex-mulher, mas como um bravo guerreiro aguentou com coragem e determinação os maus tratos a que foi submetido. Era um carro para o dia a dia, que me levava ao trabalho, que me levava em viagens, subindo a serra de Lídice sem vacilar, embora padecesse com seu motor 1.0 para ultrapassar caminhões na subida cheia de curvas da Angra-Getulândia quase que semanalmente.

O carro foi feito para se ter apenas um dono, um motorista. Quando duas pessoas completamente diferentes dividem o mesmo volante as coisas não dão muito certo. E quem sofre, obviamente, é quem tem zelo pelo automóvel. Podemos dizer que eu era um dono chato e cuidadoso demais, não levando o corsinha para lugares em que certamente teria que submetê-lo à situações, digamos, perigosas. Não o estacionava em qualquer lugar, mesmo de dia, evitando lugares ermos e escuros; não dirigia nas horas de pico, por saber que, geralmente, as pessoas têm ânsia de voltarem para casa, cometendo as maiores loucuras no trânsito; não me embrenhava em estradas de terra, porque off-road não é o forte de carros urbanos. Pode até parecer que era besteira, mas eu gostava de ter o carro limpo e seguro. Detalhes que minha ex-mulher ignorava.

Não estou aqui para denegrir a imagem dela como motorista, hoje, para sua sorte, ela não é tão ruim como era antes, mas naquele tempo fazia jus ao perigo constante. Certa feita, em Volta Redonda, por pouco não se acaba o corsinha na lateral de um ônibus. Minha espinha gela como se fosse agora sé em lembrar. Ela vinha na pista, a estúpida mania de dirigir com a mão sobre o câmbio, como se fosse uma excelente motorista, acelerava desnecessariamente pela via urbana, com seu ar superior, querendo mostrar que era capaz e melhor do eu a julgava. Apesar das minhas reclamações para andar mais devagar, para pôr as duas mãos no volante, para prestar atenção no que fazia, ela insistia em me ignorar. De repente o imprevisto aconteceu. Um carro saía da vaga em que estava estacionado. A preferência era nossa, mas não havia tempo de retornar ao lugar onde estava. A solução óbvia era diminuirmos a marcha para que o cidadão imprudente pudesse entrar no fluxo de trânsito, mas a infeliz acelerou ainda mais, com a iminência da colisão, ela jogou o carro para a outra pista sem olhar o retrovisor. Ainda ouço o forte barulho da buzina do ônibus, que passou tirando fino do retrovisor direito, em meu ouvido. Que desespero.

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