segunda-feira, 26 de julho de 2010

O Corsa - Parte 7

As desventuras do Corsa estão chegando ao fim, mas nem por isso os problemas e contratempos, além, é claro, dos maus tratos a que ele foi submetido acabaram. Durante os dois anos que fiquei com o carrinho comprado na, felizmente fechada, Vadico Veículos, do Parque das Palmeiras, histórias incríveis aconteceram, histórias que contando, às vezes, nem dá para acreditar de tão surreais que são. As testemunhas existem para isso, e testemunhas das barbaridades existem aos montes.

O acontecimento descabido deste capítulo aconteceu no fim de 2004, quando a motorista descuidada resolveu ir para Volta Redonda sozinha, depois de, claro, mais uma discussão entre mim e ela.

Já farto do casamento falido, dei graças quando ela me disse que iria passar o fim de semana na casa dos pais, só não gostei de saber que ficaria sem carro, mas não me importei muito, porque não faria nada além de assistir tranquilamente aos filmes que estavam esperando há tempos para rodarem no meu aparelho de DVD sem ninguém me encher a paciência. Assim, sozinho em casa, pus os pés para cima e apertei o “play” do controle-remoto, acompanhado de potes de pipoca e garrafas de Coca-cola.

Mas, em se tratando de mim, nada seria tão tranquilo como aparentava ser, nenhuma felicidade duraria muito tempo, porque o Corsa estava em mãos perigosas.

No domingo à tarde o corsinha voltou de viagem. Minha ex-mulher me ligou da garagem, pedindo para que eu descesse e visse o carro. Lembrando da última vez que ouvi a mesma frase, quando ela estourou a frente do carro na traseira da Montana, corri com o coração na mão, temendo encontrá-lo mais uma vez destruído.

Numa primeira vista, não vi nada de anormal. Não havia nenhum amassado, nenhum arranhado, aparentemente nada de errado. Mas de imediato fiquei incomodado com a ventoinha do radiador que não desarmava, ventilando em potência máxima, mesmo com o motor desligado. Isso não era normal.

Notei a expressão de “fiz besteira” estampada no rosto da minha ex-mulher, como se me pedisse com os olhos chorosos para não brigar com ela. De imediato, perguntei, sem me apiedar, o que ela tinha feito dessa vez. Quase caí para trás com a resposta, sentindo o sangue ferver mais que a água que deveria estar no radiador, e não estava.



Tem gente que acha que ter um carro é apenas sentar no banco, girar a chave e dirigir à vontade. Não, não é assim. Um motorista deve cuidar do automóvel, não só guiá-lo. Se o fizessem, não teríamos um número imenso de carros em estado de miséria rodando pelas estradas, se fizessem metade das revisões necessárias ao bom funcionamento da máquina, não teríamos oficinas sempre lotadas, mas a maioria das pessoas ignora a maioria dos cuidados essenciais; ignora quebra-molas, passando como loucos por cima das lombadas, surrando a suspensão, arrastando o assoalho, estragando pneus, só como simples eventos.

Qualquer motorista que se preze sabe que antes de sair deve-se fazer uma checagem dos itens mais simples como: gasolina, água, luz, óleo, pneus e estepe. Quando nos esquecemos de verificar um desses itens, que aparentemente são irrelevantes, podemos ficar parados no meio da estrada sem que nada possa ser feito, a não ser esperar o guincho chegar para nos livrar de uma noite mal dormida no banco de trás.

No caso do sofrido Corsa, o problema foi a verificação do nível da água do radiador antes da viagem. O reservatório não foi conferido desde que saiu da garagem de Angra, rodando três dias em Volta Redonda e descendo a serra novamente. Um pequeno vazamento fez secar o reservatório, o motor esquentou mais do que devia e a válvula termostática foi para o espaço, e por mais um pouco não teria o motor fundido. Por sorte, quando a válvula derreteu, o carro esquentou demais e parou de funcionar, pois se continuasse mais um pouco os prejuízos seriam imensos.

Parada no meio da estrada, a infeliz motorista teve a sorte de uma boa alma parar para ajudá-la, fazendo uma ligação direta na ventoinha do radiador, por isso estava ligado quando cheguei à garagem. Uma “gambiarra” que possibilitou que o corsinha voltasse para casa.

Não preciso nem dizer que o tamanho da bronca foi homérico, seguido de mais uma proibição temporária de pegar o carro. Eu já não agüentava mais ouvir piadas dos amigos e, principalmente, do dono da oficina, que mais uma vez me recebia para um novo conserto. Como o corsinha era um cara valente, aguentou bem o mau trato e, uma semana depois estava pronto. Pronto para me deixar na mão de novo uma semana depois.

Um comentário:

  1. Você ganha de mim em falta de sorte. E olha que eu faço por merecer. rs

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